Todos os que amam o xadrez, em especial aqueles que dependem economicamente do jogo, perguntam-se porque, em todos os níveis, os organizadores não conseguem captar patrocínios que propiciem a realização de torneios freqüentes e com premiação adequada.
Salvo em raras exceções, os Torneios de Xadrez no Brasil oferecem premiações irrisórias, na maioria das vezes compostas pelas próprias taxas de inscrição ou por contribuições de jogadores e empresas nas quais os organizadores contam com um certo poder de influência.
Muitos argumentam que por não ser um esporte de massa, sendo, inclusive, desconhecido da maioria das pessoas, o xadrez não é atrativo ao investimento privado. Como profissional de marketing, discordo completamente desse ponto de vista.
Várias atividades humanas contam com pouquíssimos adeptos e altíssimo apoio financeiro, simplesmente porque souberam vender os seus atributos.
Durante quase dez anos, atuando em uma das maiores empresas do país, fui o responsável pela aprovação de patrocínios a diversos eventos. Naturalmente, os recursos, embora consideráveis, não eram suficientes para atender a demanda, exigindo uma criteriosa metodologia eletiva.
Embora os critérios sejam específicos a cada empresa, saibam que, na grande maioria dos casos, a seleção de projetos de patrocínio depende mais da credibilidade do proponente do que da apresentação física do projeto, uma vez que existe uma super-oferta de profissionais especializados em “embelezar” idéias difíceis de materializar. Assim, observa-se na prática que poucos promotores sempre captam patrocínios. E isso acontece não só porquê prometem boas contrapartidas, mas principalmente porque várias vezes entregaram o que prometeram.
Como bom capivara, presenciei e participei de vários torneios. Digo aos colegas que, mesmo sendo entusiasta do jogo, eu não teria colocado nenhum centavo sob minha responsabilidade nesses eventos. E na esperança de que possa contribuir com a elevação do nível de nossos eventos, gostaria de abrir um debate sobre esse tema expondo os porquês.
Primeiramente, as pessoas precisam saber que a realização de um evento de porte e a captação de parceiros de alto nível requer planejamento. E isso não quer dizer apenas a análise das variáveis envolvidas no torneio em si, como os custos, logística, etc. Todas as vezes que eu recebia um projeto que me explicava apenas os custos do evento, minha lixeira ficava um pouco mais cheia.
Um evento deve ser tratado como um produto. Deve ter um posicionamento planejado. Deve trazer, em si, uma promessa. No entanto, mais importante é conter um reason why. Ou seja, o argumento que assegure que essa promessa será cumprida. E essa combinação deve ser direcionada a um público-alvo bastante definido.
Imaginem que alguém promova rodas de samba, com telões e futebol no domingo à tarde. É fácil imaginar que o público mais conexo a este evento são homens solteiros, de 18 a 35 anos. O que faria o Gerente de Marketing da Avon ao receber um projeto desses?
Parece extremo, mais saibam que 80% dos projetos descartados pelos patrocinadores pecam pela quase total desconexão entre os públicos-alvo do evento e da empresa.
Num bom projeto, o proponente analisa os atributos de seu evento, identifica a conexão com o público-alvo de um determinado produto, elege patrocinadores potenciais, elabora apresentações customizadas, explica pessoalmente as contrapartidas propostas e, principalmente, garante o cumprimento do que falou, ainda que não tenha conseguido o patrocínio.
É muito raro que uma empresa apóie o primeiro projeto de alguém (lembram da questão da credibilidade?). O bom promotor sempre dá feedback, mostrando o que se ganhou ao patrocinar ou o que se perdeu ao não apoiar. Tenho certeza de que estamos longe desse nível nos projetos de eventos de xadrez.
Alguns podem me dizer que fizeram projetos bonitinhos. Mas há outras questões...
Falando especificamente de xadrez, temos a questão da escala e na baixíssima qualidade dos calendários e eventos oficiais. E aqui não estou falando em qualidade enxadrística. Estou falando, por exemplo, nas péssimas apresentações de salas de jogo, na completa ausência de planejamento na exposição de marcas, a apresentação pessoal dos jogadores, etc.
Minha singela opinião é de que é muito simples dar um salto qualitativo no nível de nossos torneios. Basta que se considere o xadrez sob a ótica mercadológica, buscando empatia com patrocinadores potenciais.
Para isso, minha proposta é que formemos um grupo de trabalho que elabore um plano a ser apresentado à CBX e Federações. Temos, com certeza, entre nossos jogadores, todo material humano necessário à elaboração de um plano de marketing excepcional. Tenho certeza absoluta que podemos captar parceiros de longo-prazo nas esferas estadual, regional e nacional. No entanto, é necessário trabalho integrado e coordenado.
Desde já coloco-me à disposição para participar dessa empreitada e espero que outros comprem essa idéia.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
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